Os cadernos de queixas de Charolles e de Toulon-sur-Arroux (Saône-et-Loire):
« Que não reste nenhum vestígio da escravidão sob o império francês ! »
Artigo 10 do Caderno de Queixas de Toulon-sur-Arroux, de 17 de março de 1789.
O caderno de queixas de Toulon-sur-Arroux
Aproveitando a convocação dos Estados Gerais, lançada em agosto de 1788, para realizar-se em Versalhes em maio de 1789, a sociedade abolicionista dos Amigos dos Negros enviou uma petição aos tribunais, solicitando ao povo que denunciasse a escravidão nos cadernos de queixas. Naquele do tribunal de Charolles e principalmente no caderno da paróquia de Toulon-sur-Arroux, por iniciativa de seu prefeito, Jean-Philippe Saclier, advogado no Parlamento da Borgonha, encontramos um apelo visionário à solidariedade das Nações para erradicar a escravidão.
Histórico:
Captura e escolta de escravos na África.
O caderno do terceiro estado do tribunal de Charolles é uma síntese dos 83 cadernos vindos das 83 paróquias do Charolais, obtidos no Auditório do Tribunal, muito perto do castelo Comtal. Il pedido no artigo IV - 9 : “ Que a escravidão seja abolida nas colônias francesas”.
Mas é o vilarejo de Toulon-sur-Arroux que expressa no artigo 10 do seu caderno de queixas, uma reivindicação de alcance muito maior, visando a escravidão, o tráfico e a abolição universal por meio de um acordo internacional, nos seguintes termos:
« Que não reste nenhum vestígio da escravidão sob o império francês ! Que a avaliação da fortuna pública não se calcule mais sobre o número de infelizes! Por fim, que a escravidão seja abolida nas colônias, que a nação renuncie para sempre ao tráfico de negros, e que o Rei, seguindo o seu coração, digne em convidar todas as nações a renunciar a esse monstruoso comércio, através de um pacto geral que a Humanidade clama. »
O artigo 10 do caderno de Queixas e o memorial que guarda a lembrança do voto dos habitantes de Toulon-sur-Arroux em 7 de março de 1789.
O autor deste breve, claro e poderoso texto, é o prefeito de Toulon-sur-Arroux, Jean-Philippe Saclier, advogado no Parlamento de Borgonha, um espírito liberal e iluminado. Nascido em Toulon-sur-Arroux em 1743, ele faleceu em 1819.
O artigo 10 do caderno de Queixas de Toulon-sur-Arroux, permanece com aquele dos habitantes de Champagney em Haute-Saône, são excepcionais, porque foram raras as manifestações contra o sistema. Assim:
- de cento e sessenta e quatro cadernos de tribunais e senescais, redigidos pelo Terceiro Estado, doze clamam pela abolição do tráfico, quatro dos quais pela abolição da escravidão e os outros oito, manifestam sua desaprovação em relação à essas práticas, embora, com cautela. Os cadernos de queixas da paróquia, com raras exceções como a de Champagney ou Toulon-sur-Arroux, não abordam o assunto.
- de cento e cinquenta cadernos redigidos pela nobreza, três clamam a abolição do tráfico de escravos, dois dos quais pela abolição da escravidão e outros sete mencionam um desejo impreciso sobre este assunto;
- de cento e cinquenta e cinco cadernos redigidos pelo clero, oito clamam a abolição do tráfico de escravos, quatro dos quais pela abolição da escravidão e outros quatro abordam o assunto com cautela.