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Casa Abade Grégoire em Ermberménil (Meurthe-et-Moselle):

“ Ainda existe uma aristocracia, aquela da cor da pele. Maiores do que seus antecessores que a instauraram, se assim podemos dizer, você a fará desaparecer”.
Harangue de Grégoire na Convenção nacional, em 17 de junho de 1793.

Casa museográfica Abade Grégoire.



A casa museográfica inaugurada em 1994 em Emberménil, presta homenagem ao Abade Grégoire que liderou a luta pela abolição da escravidão, alcançada na Convenção Nacional de 1794, depois, se levantou contra a sua recuperação em 1802, apoiando Toussaint Louverture e a jovem república do Haiti, se opondo sucessivamente a Napoleão e aos Bourbons da Restauração. As cinzas daquele que era chamado de “ o amigo dos negros” foram transferidos ao Panthéon em 1989.

Histórico:

O Juramento de Jeu de Paume

Se a abolição da escravidão foi proclamada sob a pressão da revolta dos escravos negros de São Domingos, foi a luta de um homem que dedicaria toda a sua longa existência a ela: o Abade Henri Grégoire.

Nascido em 1750 no pequeno vilarejo de Vého, na Lorena, foi ordenado sacerdote em 1775 e nomeado padre de Emberménil em 1782. Quando foram convocados os Estados Gerais em 1789, Grégoire foi eleito deputado do Baixo Clero de Lunéville. A partir daí, abre-se uma trajetória excepcional que o tornará uma das grandes figuras da Revolução Francesa.

Ele será um dos artesãos da aliança do Clero ao Terceiro Estado. Ele está presente no Juramento do Jeu de Paume, preside a Assembleia Nacional no momento da tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789. Ele é o autor do decreto que no dia seguinte à vitória de Valmy, aboliu o Reinado, e é um dos fundadores da Primeira República. Presidente da Convenção Nacional, ele ficará no cargo no Quinhentos e depois se tornará senador do Consulado e do Império. Ele votará contra o estabelecimento do Império em 1804 e redigirá o texto sobre o declínio do Imperador em 1814. Odiado por Napoleão, tanto quanto pelos Bourbons, eles o afastarão de todas as suas funções.


Durante toda sua vida ele demonstrará suas convicções religiosas. De padre de Emberménil, ele será eleito bispo de Blois e votará a Constituição Civil do Clero. O chapéu do cardeal que lhe foi concedido pelo papa será cancelado por Bonaparte. Grégoire lutará para a liberdade do culto, para a separação da Igreja e do Estado, adquirida na França em 1905, ou o abandono da missa em latim, como a retomará o Concílio Vaticano II em 1962.


Declaração dos Direitos Humanos

Juntamente com uma trajetória política, Grégoire deixará para França uma obra considerável: autor da supressão da gabela e do Direito da Primogenitura, ele liderará as reformas da instrução pública, será o inventor da conservação do patrimônio, introduzirá medidas para combater o vandalismo, criará o Bureau de Longitudes e tornará universal a língua francesa. Ele fundará as casas de agricultura departamental, será um dos pais do Instituo da França, criará a Academia das Ciências Morais e Políticas e o Conservatório Nacional das Artes e Ofícios.

Mas sua obra mais importante foi a luta pelo Homem, aquela que ele tinha anunciado redigindo o Artigo Primeiro da Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão:
« Os homens nascem e permanecem livres e iguais em Direitos ».

No início, a sua luta foi pelo judeus. Desde 1788 em seu « Ensaio sobre a regeneração dos judeus", ele pleitea para sua integração e igualdade de tratamento. Ele foi o primeiro a enviar uma representação dos Judeus à Assembleia Nacional, pedindo a igualdade dos Direitos que lhes será definitivamente consagrada em 1791, a comunidade judaica se tornando membro pleno da Nação.


Mas sua mais longa luta foi pelo Negros: em 1789, Grégoire é membro da « Sociedade dos Amigos dos Negros » da qual se tornará Presidente. Ele elimina os prêmios do governo para o tráfico de Negros e em 4 de fevereiro de 1794, arranca da Convenção Nacional a abolição da escravidão.

Pleiteando pela integração dos Negros na República, ele vai se opor vigorosamente à expedição Leclerc em 1801, e será uma das raras pessoas a votar contra o restabelecimento da escravidão, em maio de 1802.

Retrato de Abade Grégoire

Ele viajará para a Inglaterra e reencontrará os grandes abolicionistas Clarkson e Wilberforce, escreverá entre 1808 e 1827 várias obras denunciando os crimes contra os Negros. Em 1815, ele interpela os membros do Congresso de Viena pela abolição imediata.

Defensor dos Negros, ele foi o protetor da jovem República do Haiti: desde 1800, ele mantém uma correspondência para ajudar Toussaint Louverture e em 1812, ele é convidado ao Cap, pelo rei Christophe. Em 1819, Haiti abre uma subscrição para prover o palácio presidencial com seu retrato. Em 1825, quando os representantes do Haiti vêm comprar o reconhecimento da independência de seu país pela França, as autoridades oficiais os proíbem de se encontrar com Grégoire.



Enfrentando a proibição, os Haitianos não se contiveram em encontrar seu protetor, que em 1827 escrevera uma comovente « Epístola aos Haitianos ».

Só um câncer generalizado irá conseguir abater e calar para sempre o Abade Grégoire. Ele que tinha atravessado os tormentos da Revolução, feito oposição ao Império e ousado desafiar os Bourbons, apagou-se em 28 de maio de 1831. Boicotado pelas autoridades oficiais, seu funeral foi um sucesso popular. Um cortejo fúnebre de 20.000 pessoas, composto de trabalhadores, estudantes, e ainda Judeus e Negros, acompanhou o caixão de Grégoire até o cemitério de Montparnasse.

No anúncio de seu desaparecimento, decretou-se um luto nacional no Haiti: bandeiras a meio mastro, missas solenes em todas as igrejas, um tiro de canhão é disparado a cada hora durante dois dias. No ano seguinte, uma estátua de Grégoire é erguida em Porto Príncipe.

Em 1989, no quadro das comemorações do Bicentenário da Revolução, a grata França consagra a imortalidade de Grégoire, transferindo suas cinzas para o Panthéon Nacional.

Em 1994, por ocasião do Bicentenário da primeira abolição da escravidão, o Município de Emberménil e o Comitê Grégoire inauguram a casa museográfica Abade Grégoire.


Vitral representando a abolição